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terça-feira, 23 de dezembro de 2014

FELIZ NATAL! UM PRÓSPERO 2015!



Postagens em períodos natalinos são sempre complicados para mim, os motivos já declinei em outros escritos por aqui. Nos últimos tempos venho tentando vencer estas barreiras que as memórias de infância me impuseram. Soube que o pastor Silas Malafaia dissera que é a data em que se comemora o nascimento do Salvador, daí deve ser celebrado de fato, com alegria e sinceridade de coração. Concordei. Pouco me lixo se os homens usam o natal como desculpas para turbinar o comércio. Cada um, cada um. Aí chegam Os Defensores do Evangelho e nos lembram que Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro, mas numa data bem diferente e distante do final do ano e o que festejamos na verdade não é o nascimento do Messias mas divindades pagãs como Mitra. Sabem, acho mesmo que as pessoas gostam de complicar. De fato, não sabemos exatamente o dia que Jesus nasceu, mas se os homens aqui no ocidente, sei lá porque motivo, escolheram esta data para comemorar, comemoremos. Deus é quem prova os corações, ELE sabe da sinceridade e motivos de cada ser vivente. Eu não me sento em mesa de ídolos para adora-los, minha adoração é dirigida exclusivamente a Jesus, o único e suficiente Salvador. Então como e bebo dando glórias a Ele, não só nesta data mas em todos os dias de minha vida.

O que pega pra mim no natal é a correria, sinto um desgaste maior nesses dias. Sempre tem um ítem ou outro que precisa ser comprado no mercado e tem aquelas filas enormes. Neste lado da família só a Verônica entende de cozinha e eu sou o auxiliar, sem contar que sou aquele que cuida das sobremesas, depois ficamos para lavar pratos e panelas, minha sogra dá uma força, mas parece não ser o suficiente, no final das contas ficamos bem cansados. E quando aparece alguém dando um faniquito qualquer e acaba com o clima? Já aconteceu. Bem, são as imprevisibilidades da vida.

Por tantos percauços nesses últimos meses eu Vera decidimos não fazer ceia ou coisa que o valha, mas minha mãe e minha sogra nos convenceram do contrário, então teremos algumas guloseimas, sim.

Eu, em retrospecto, diria que 2014 foi um ano turbulento, mas como foram todos os outros anteriores, pesados na balança acho que as situações se equlibraram. O saldo graças a Deus foi positivo, considerando que familiares e amigos estão ainda conosco lutando suas batalhas. Sei que nem todos tiveram esta sorte, infelizmente (força, minha amiga, Deus é contigo), é duro, mas vida tem que continuar.
Um ano que ficou marcado positivamente foi o de 2011 pois foi nele que publicaram dois ábuns do Zé Gatão, um pela PADA e outro pela Devir. Veremos se em 2015 teremos a bio do Poe e a conclusão de Memento Mori.

Bueno, nem esperava escrever tanto (noto que infelizmente o número de acessos a este blog diminui a cada dia, o que é uma pena) mas me empolguei.
O desenho de hoje já foi postado aqui mesmo, se não me engano, em 2010, mas não tive tempo de criar novidade.

DESEJO A TODOS UM FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO!

Dou um break nesses dias de festas e retorno, se o Salvador permitir, na primeira semana de 2015 com novos textos e novos desenhos. DEUS ABENÇOE A TODOS.





sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

EU E O THONY SILAS.


As vezes ainda sou cobrado para postar alguma foto minha neste blog. Bem, uma por ano acho que tá legal. Depois de um tempo eu tiro. Esta foi durante um encontro de desenhistas no Paço Alfândega, em Recife, no finzinho de novembro (2014), ao lado do Thony Silas, um grande artista que atualmente faz Batman do Futuro pra DC Comics.


Bom fim de semana a todos.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

NUMA E A NINFA ( CENA 10 ).



Podem respirar aliviados que hoje não vou escrever muito. Até queria mas não será possível.
Deixo aqui a cena 10 do clássico do grande Lima Barreto (imagem de cima) e outra cena que ia ficar de fora mas resolvi agregar (abaixo), do mesmo livro.
Espero que gostem.


quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

ANTES TARDE QUE NUNCA.

Amadas e amados, boa noite.

Hoje meu irmão caçula completa mais uma primavera. Já falei com ele mas deixo aqui registrado meu amor incondicional. Feliz aniversário, Rodrigão!

Depois de ficar quase dois dias longe da internet e da prancheta, só agora a noite (são exatamente 22:15 hs) sento diante do computador. Dei uma rápida olhada nos meus e-mails, nada de relevante senão aqueles anúncios de vendas e um recado de uma turma que tinha um projeto no Cartarse (um que colaborei) informando que enviarão o livro só a partir de fevereiro. Cara, eu nem me lembrava mais disso!
Olhei também o Facebook, alguém me disse que se um artista quiser ser conhecido pelo maior público possível deve fazer a sua parte se exibindo nas redes sociais. Bem, no Facebook também não havia nada demais, nenhum editor com grana pra gastar querendo investir em meus projetos pra me tirar da maré ruim que me agarrou a uns meses e não quer soltar de jeito nenhum. Só pra vocês terem uma ideia, entreguei as ilustrações do último livro que fiz a mais de um mês e um pagamento que estava previsto para vinte dias atrás ainda não entrou! É a coisa mais chata ligar para o setor financeiro da empresa e ouvir desculpas esfarrapadas. Os juros das minhas contas atrasadas não querem saber. Acho que vocês também não, então mudo de assunto.

Fiquei sem trabalhar esse tempo porque ontem pela manhã aconteceu uma pequena tragédia dentro do meu estúdio. Preciso de mais umas duas estantes de ferro para poder colocar uns livros e quadrinhos que estão trancafiados em caixas desde que vim morar neste local quente. De lá pra cá, é claro, meu acervo só fez crescer. Fui empilhando livros e gibis, além de folhas de papel com anotações e esboços. A montanha foi se erigindo e eu pensava, tenho que dar uma arrumada nisso, uma hora essa porra cai na minha cabeça. Já uns dias vinha notando que a pilha estava meio enviesada, cuidadosamente dei uma "arrumada" prometendo a mim mesmo distribuir melhor aquilo assim que sobrasse um tempo. E o maldito tempo nunca sobrava, tem sempre algo mais urgente, como comer, dormir e escovar os dentes, por exemplo. Tenho que ressaltar que boa parte da minha bagunça se faz necessária pois são livros que de alguma maneira estou sempre consultando. Bem, logo cedo, liguei meu notebook em cima da prancheta pra começar a minha rotina de trabalho, atualmente, além do Poe, ilustro Noites na Taverna, do Álvares de Azevedo. A Verônica me chamou lá na cozinha pra alguma coisa, enquanto falávamos ouvi um som de coisas caindo, algo como som de metal estatelando no chão. Corri para ver o que era e os livros e papeis estavam todos espalhados por sobre minha mesa, cadeira e chão. Na queda, os livros acertaram meu laptop jogando-o no assoalho. A primeira coisa que pensei foi: me fudi! Como vou trabalhar agora? Ao notar minha exasperação a Vera falou: calma rapaz, damos um jeito. Pegou o aparelho do chão e notamos que a despeito da queda e dos livros que se amontoaram sobre ele, estava intacto, funcionando perfeitamente! E olha que tem idiota que não acredita em Deus!
Bem, o tal tempo que nunca sobrava acabou se estendendo pela matina, post meridien et vesperam. Como ainda não tenho condições de comprar as tais estantes de ferro, remanejei as caixas de maneira a torna-las mais seguras. Fiz uma reforma quase total em meu ambiente de trabalho, separando papeis que vão se aglutinando aqui e acolá, são esboços e mais esboços, notas e artes finalizadas, tanto de materiais já publicados, projetos em andamento e outros ainda no limbo. As vezes não sabia onde colocar ou mesmo o que fazer com aquilo. Uma onda de pensamentos tomaram conta da minha cabeça e na verdade não são pensamentos novos, venho meditando sobre isso já a algum tempo. Pra que acumulo tanta coisa? Vou reler todos esses gibis? São mesmo úteis ainda hoje?
Tempos atrás, o Leandro Luigi Del Manto, editor da Devir, colocou diversos quadrinhos à venda no Facebook. Pensei: puxa, que pena, o Leandro está se desfazendo de suas hqs! Na verdade ele só estava se livrando dos excessos, buscando espaço em seus armários. Acho o desapego uma coisa importante, algo que ainda não desenvolvi inteiramente, penso que tudo que conquistei foi tão árduo que me agarro aos troféus como para me lembrar que lutei muito por eles.
E pra que guardo tantos rabiscos? Porque faço tantos desenhos que, na real, nem mostro a ninguém? Talvez, lá no fundo queremos nos imortalizar, deixar algo para futuras gerações. Hoje muitos querem saber mais sobre o poeta Cruz e Souza, o Dante Negro, que ao ser vencido pela tuberculose foi transladado de Curral Novo ao Rio de Janeiro num vagão destinado ao transporte de cavalos. Tivesse ele deixado notas, rascunhos, pensamentos que só diziam respeito a ele, teríamos uma maior dimensão de seu talento - talvez tivesse deixado e não tenha sobrevivido ao tempo, vai saber - o fato é que tudo, no fim das contas, não faz muito sentido.
Quantos ainda me lêem aqui? Digo, os textos mais longos? Ao me iniciar neste blog eu tinha quase 500 visualizações diárias, caiu para 250 a 300 depois de um tempo e hoje vai de 50 a 150. No Facebook as solicitações de amizade vão se somando day by day, mas quantos ali sabem mesmo o que faço? Quantos já leram um quadrinho do Zé Gatão ou já ouviram falar do personagem? Muito poucos pelo que pude notar. Os novos artistas então, nem se fale, esses só estão centrados em suas produções.

Bem, o Livro de Eclesiastes fala disso tudo de maneira irrefutável.

Diminuí muito minha compra de quadrinhos, livros, filmes e cds, mas sei que ainda vou adquirir aqueles que me interessam, dos autores dos quais sou fã, mas a tendência é me ausentar mais e mais disso tudo, tanto que por mais convites que surjam para parcerias em projetos como o Golem, por exemplo, eu não sinta o mesmo entusiasmo de outrora.

Meu espaço agora ficou diferente, mais arejado (pode ser só impressão) e amanhã bem cedo retomo as atividades, se o Senhor permitir. A luta não pode parar.
Estou sem corretor de texto, então perdoem algum erro. Fiquem com mais um desenho para um livro infantil.
Bom fim de semana a todos.



segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

NUMA E A NINFA, CCXP E A NOVA (JÁ ENVELHECENDO) GERAÇÃO.

Pois é, como tudo que é bom dura pouco, acabou ontem a Comic Con Experience. Imagino que tenha sido bem legal. Na verdade, acho que eu teria gostado de ir, não para gastar dinheiro com o que estava sendo comercializado lá, acho muito fera aquelas estatuetas, mas é um luxo que não posso me dar e nem tenho fissura pela coisa. Quadrinhos? Bem, salvo o material independente que os novos autores tem publicado, pouco me interesso pelas novidades. Adquirir originais de artistas? Não me apetece. Olhar de perto astros de série de tv? Tô fora. Ver utensílios usados em filmes que marcaram época? Sim , isto poderia ser maneiro, encaro como olhar objetos em um museu, e eu gosto de museus. Assistir filmes e trailers em primeira mão? Acho que não vale horas numa fila para isso, não é mais pra mim. Palestra? Ah, na real, não tenho mais saco! É bem sabido que os bacanas que vão aos eventos de cultura pop tão lá para vender seus peixes, são inúmeros livros, filmes, séries de tv, games, toys, graphic novels e tutti quanti. Tá muito certo, é um negócio, tem oferta e procura, eu vendo um produto, você compra. Se fica satisfeito volta para comprar mais. Assim funciona o mundo onde se progride, gera renda, emprego e se tem liberdade de escolha.

Porque eu teria gostado de ir? Não sei bem, gosto de bienais e também creio que aquela movimentação toda seria uma boa forma de observar in loco o mundo atual. Nerds de todas as formas, sexos e tamanhos, vestidos como seus personagens preferidos ou não indo adorar seus deuses levando suas oferendas. Na verdade não é um privilégio do tempo presente, sempre foi assim, mas a turma de hoje tem algo de peculiar.

Teria sido muito bacana estar ali com meus três irmãos, vislumbrar tudo e todos, tecer nossos comentários ácidos e depois ir na praça de alimentação encher a pança. Mas esta é mais uma crise de nostalgia, afinal, não somos mais os mesmos, não estamos mais solteiros sem as responsabilidades de chefes de família. Estamos sempre unidos em espírito mas afastados de corpo a muitos anos, infelizmente.

Este fim de semana, enquanto trabalhava, algumas vezes, em vez de ouvir música, deixei rolar ao vivo a CCXP no canal do site Omelete (na verdade o responsável por trazer este festival para o país) e acompanhei algumas matérias e entrevistas e pude notar algo interessante que até então não tinha me tocado de forma clara: a nova geração internet. Bem, nova em termos pois a coisa já vem de algum tempo, mas sentaram na poltrona do Omelete um sem número de pessoas que eu nunca tinha ouvido falar, mas que são bem famosas em canais do You Tube e sei lá mais o quê. Ali parece que se tornam caciques destas novas tribos. Noto também que estes "famosos" ainda precisam do aval das emissoras de tv para "acontecerem" de fato. Digo isto porque reparei que alguns programas dominicais exibem vídeos muito assistidos na rede e os mais "interessantes" dão suas caras na tela da televisão aberta, e muitos são transformandos em novas estrelas, todas bem fugazes, mas ainda assim, estrelas.
Voltando ao novojovemnerd, todos tem uma forma semelhante de se expressar, são irônicos, sexualizados e muito desbocados, bem informados no que se refere ao mundo que os circunvizinham, a maioria versado em games, séries e livros onde os protagonistas são jovens que transformam seu mundo, como Harry Potter (que até já envelheceu na memória deles, imagino) e a menina do Jogos Vorazes. O que temos mais? Percy Jackson, Maze Runner e por aí vai.
Esta safra de heróis novatos com seus abdominais definidos diferem muito daqueles durões de meia idade como John Wayne, Charles Bronson, Clint Eastwood ou mesmo Schwarzenegger. Estes eram tipos solitários lutando por sua sobrevivência ou tentando proteger suas famílias, os de hoje combatem liderando grupos em nome de ideologias.
No meio disso tudo me sinto como um animal extinto.

A CCXP também confirmou algo que eu já supunha, as HQs emprestaram seu nome (Comic) para um festival, mas pouca coisa é falada a respeito delas. Com certeza o Pipoca e Naquim vai focar no tema, pois os caras são apaixonados por gibis e falam como fãs, mas a maior parte trata da coisa como negócio, se rende, a gente fala um pouco, senão esqueça. Os palestrantes da arte sequencial foram os mesmos de sempre. Normal. Os caras chamam público.
Um amigo meu achou que os preços extorsivos para a entrada foram uma forma de espantar o populacho. Não sei, pode ser, mas um evento assim custa caro, eles tem que obter retorno. Os patrocinadores se não me engano foram canais pagos de televisão e empresas privadas, não teve dedo do governo, então....

Alguém poderia perguntar, "se você tivesse sido convidado para o evento esse texto teria esse tom mordaz?" Bem, se tivesse sido convidado, lá, eu atuaria como um profissional e eu procuro fazer bem o meu trabalho, mas tento ser imparcial em minhas elocubrações sobre a vida.

Bom, o certo é que foi coroado de sucesso e já anunciaram um novo para o final de 2015. Vai ter também a bienal de quadrinhos de BH e com certeza outras vitrines. Quantos de nós estarão presentes para ver?

A arte de hoje é mais uma cena de Numa e a Ninfa.


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

HOMENAGEM AO SÍLVIO SANTOS.


E o famoso homem do sorriso completa agora no dia 12 de dezembro, 84 anos! Pô, e como ele está bem! (ele e o Maurício de Souza, que tem 79!).
Tivesse eu mais tempo ficaria aqui falando um pouco sobre como o Sílvio fez parte de nossas vidas, como minha mãe o conhececeu muitos anos atrás quando ele sorteava uma máquina de costura em cima de um caminhão, como minha avó materna tinha verdadeira fascinação por ele e como eu e meus irmãos nos divertíamos nas manhãs de domingo no SBT assistindo Tarzan (aquela série com o Ron Ely) e a luta livre americana com o Hulk Hogan.
Mas vou me ater somente à exposição que inaugura no dia 10 de dezembro no Metrô República em São Paulo em homenagem a ele. Participo com esta caricatura que aqui está:


A ideia de faze-lo como um gênio que realiza sonhos foi do meu irmão, que para mim é o verdadeiro gênio, a visão artística do Gil sempre foi muito à frente do nosso tempo - ah! se tivéssemos conseguido emplacar aquela série de terror para a televisão que criamos juntos nos anos 90! Mas deixemos o passado e concentremo-nos no agora. E o agora me chama com urgência à prancheta para cuidar do trabalho.

Tenham todos um ótimo fim de semana (quem for à CCXP, divirtam-se por mim, certamente será um weekend diferenciado).

Abaixo, o release da expo.


SILVIO SANTOS É HOMENAGEADO EM SEU ANIVERSÁRIO COM EXPOSIÇÃO DE CARICATURAS

O ícone da TV brasileira completa 84 anos no próximo dia 12 de dezembro

84 VEZES SILVIO SANTOS – 10 A 31 DE DEZEMBRO NO METRÕ REPÚBLICA (nível “C”)


Senor Abravanel, conhecido por todos como Silvio Santos, é uma referência na vida dos brasileiros.  Acostumados a recebê-lo em suas casas aos domingos, como se fosse da família, muitos nem sabem que ele completará 84 anos de vida no dia 12 de dezembro de 2014.

Os cartunistas brasileiros sempre o recriaram em seus traços nas caricaturas e charges publicadas na mídia. Assim, a Associação dos Cartunistas do Brasil reuniu 60 dessas caricaturas para uma exposição há tempos merecida pelo apresentador, que invade nossos lares com todo o bom humor que faz parte de sua personalidade.

Cada cartunista emprestou seu estilo e visão para retratar o sorriso e irreverência de Silvio Santos. O resultado pode ser conferido na exposição que acontece na Estação República do Metrô a partir do dia 10 de dezembro até o dia 31 de dezembro. Em janeiro, as caricaturas seguem para a Estação Clínicas e, no mês seguinte, estará na Estação Corinthians/Itaquera, time do coração do apresentador.

Desenhistas participantes por ordem alfabética:

Alecrim, Alex Souza, Amorim, Anderson de Carvalho Kocís, André de Pádua Oliveira, André HQ, André Sposito, Aroeira, Baptistão, Benjamim Cafalli, Bruno Hamzagic, Bruno Honda, Cárcamo, Carriero, Carvall, De Pieri, Décio Ramirez, Dilmar Júnior, Dimaz Restivo, Eder Santos, Edra, Edson Guedes, Eduardo Schloesser, Elihu, Evandro Carlos Olante, Fer, Fernandes, Ferreth, Francisco Rocha, Fred Osanan, Gustavo Guimarães, Iéio, Izânio Façanha, J.Bosco, Jal, Jean pires, Jorge Inácio, Josemar, Josú Barroso, Kaltoé, Lézio Júnior, Mauricio de Sousa, Mônica Fuchshuber, Nei Lima, Osvaldo Pavanelli, Paulo Sergio Jindelt, Quinho, Rafael Grande, Renato Stegun, Ricardo Alonso, Ricardo Soares, Sergio Gomes, Silvio Brum, Tako X, Toni D’Agostinho, Verônica Saiki, William Medeiros, William MR, Xavier Lima, Zappa.

Curadoria – José Alberto Lovetro (JAL)
Apoio Cultural: Sistema Brasileiro de Televisão - SBT
Realização: Associação dos Cartunistas do Brasil – jal.comunicacao@gmail.com

Serviço:

EXPOSIÇÃO – "84 Vezes Silvio Santos”
De 10 a 31 de dezembro no Metrô República ( Espaço do nível “C”)
De 10 a 31 de janeiro de 2015 no Metrô Clínicas
De 10 a 28 de fevereiro de 2015 no Metrô Corinthians/Itaquera
Horário de funcionamento do Metrô de São Paulo

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Números dos usuários que circulam diariamente pelas estações envolvidas na exposição:
Estação Corinthians/Itaquera: 193 mil
Estação República: 344 mil
Estação Clínicas: 69 mil





segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

"REMINISCÊNCIAS" - Um conto de Zé Gatão escrito por Luca Fiuza com rabiscos de Eduardo Schloesser.




Normalmente, não gosto de lembrar do meu passado, sobretudo da minha infância. Ainda assim, tive em algumas fases da vida momentos agradáveis, por que não dizer até engraçados.
Há muitos anos atrás, vivia com minha mãe em uma cidade de pequeno porte para a qual havíamos nos mudado há um ano. Experimentávamos um dos raros períodos em que nossa situação se achava em um nível razoável. Minha mãe trabalhava em uma loja de doces finos perto de casa. Nesta época, eu fazia um curso de Jornalismo e Publicidade em outra cidade, mas no meio do ano acabei abandonando-o por achá-lo pra lá de tedioso. Minha mãe não gostou muito, mas deixou que eu agisse como achasse melhor. Eu era um felino alto e desempenado. Gostava de praticar longas corridas e cedo comecei a me interessar por fisiculturismo. A princípio, malhava em casa mesmo, com pesos artesanais fabricados por mim. No lugar de barras, me exercitava em galhos de árvores que conseguissem suportar meu peso. O tempo ocioso era grande e eu gostava de passá-lo em um bosque próximo, me deixando ficar à beira do regato, profundamente mergulhado em minhas cismas e tristezas íntimas.
Depois de quase um mês, sem fazer nada e cansado daquela vida inútil, resolvi procurar trabalho. Por ser uma cidade pequena não havia boas oportunidades. Ainda assim, através de um amigo, um galinho carijó quase sempre enfezado, consegui um trabalho de fotógrafo auxiliar no estúdio do pai dele, um galo velho de maus bofes que curiosamente simpatizava comigo. Tinha o dom de aprender rápido e logo estava dominando meu ofício. O velho ficou satisfeito com meu desempenho. Dali a uma semana me deu um adiantamento reforçado. Metade eu entreguei nas mãos de minha mãe e fiquei com o resto para meu uso pessoal. Além de comprar algumas roupas e calçados novos, resolvi me inscrever em uma academia de musculação junto à praça central da cidade.  A academia era acanhada, os aparelhos meio velhos, mas era o que eu tinha à mão. Com o tempo, adquiri um físico avantajado, massudo, sem divisões. Não me importei, pois isto eu conseguiria posteriormente, com uma alimentação mais adequada e aparelhos mais modernos. Com certeza, não naquele lugar e naquela cidade.
O proprietário da academia era um gatão vira lata de expressão velhaca. Tinha braços grandes, mas mal trabalhados, pernas finas, peito amplo e relativamente desenvolvido. Uma barriga roliça de bebedor de cerveja completava o quadro. Era uma figura grotesca e pouco estimulante para quem quisesse nele se espelhar para ter um corpo sarado. O local era escuro, mal ventilado e tinha um odor ruim de suor de diversos tipos de animais, principalmente cavalo. Como era a única academia da cidade, o safado felino cobrava as mensalidades a um preço extorsivo. Por não ter outra opção, seus frequentadores pagavam a contragosto, eu, inclusive. Todo dia eu ia malhar de manhã bem cedo, depois passava em casa, tomava um banho, forrava a pança, vestia roupas leves e ia trabalhar no estúdio até por volta de seis horas da tarde.

Apesar da rotina, eu gostava daquele trabalho. Não era nada emocionante, mas tanto eu quanto meu amigo, o galinho curtíamos estar ali. O galinho se chamava Renato. Estávamos sempre juntos. O único lugar que Renato não me acompanhava era para a academia, pois alegava ser tão fodão que não precisava daquela merda! Eu achava graça. Queria ver se ele tivesse que sair na porrada de verdade como faria! Em minha opinião ele era só um garganta!
O galo velho disse que ia precisar fazer uma viagem de uma semana a outra cidade e que deixaria o estabelecimento aos nossos cuidados, Achei ótimo!
Em uma tarde em particular, tive três experiências inusitadas. Primeiro com um filhote de peru e sua mãe. Depois com uma gata de tirar qualquer um do sério! E por último com o gatão dono da academia.
A perua e seu filhote chegaram lá pelo meio da manhã. Ela era um ser extravagante. Usava roupas de cores berrantes, chapelão de um roxo destoante com o resto da indumentária. Um colar de enorme de pérolas evidentemente falsas pendia de seu pescoço. Usava no bico um batom vermelho bem forte, cílios postiços e nas pálpebras uma sombra verde claro que deixava seu olhar esquisito.  O vestido amarelo ouro justo, evidenciava o formato circular de seu corpo atarracado. Os sapatões vermelhos brilhantes compunham a bizarra combinação que decerto era o top de linha dos endinheirados (ou não!). Sua voz era um grasnar alto e desafinado, bem típico de aves daquela espécie. O filhote era um molecote macilento, mimado. chorão e atrevido.
Polidamente, perguntei no que eu poderia ser útil. Na cabeça dela parece que eu a destratei. A perua me respondeu de modo ríspido e impositivo. Estrilou, dizendo que eu estava ali para atender! E rápido sem muito teretêtê!  Disse que queria uma foto bem caprichada de seu adorado pimpolho. Renato se abespinhou com aquele tratamento, mas fiz um sinal a ele para que se acalmasse e que deixasse tudo comigo.
Mais polidamente ainda pedi que a mãe sentasse o moleque em uma cadeira que se achava diante da
câmera. Atrás havia um painel branco. Liguei as luzes e me postei atrás da máquina fotográfica, louco para terminar aquele atendimento. Quando eu estava focalizando o moleque, este começou a se mexer e a gritar que estava demorando muito, que ele estava com fome, com calor, que queria fazer xixi e o escambal! Tive
que me dominar para não dar uns tapas naquela criaturinha inconveniente! Pedi que a perua mãe o levasse para mijar em um banheirinho no fundo da sala. Enquanto os dois iam ao toalete, pedi que Renato permanecesse calado. O galinho tremia de raiva, a face avermelhada denotava seu atual estado de espírito. Ao saírem do banheiro, mãe e filho trouxeram consigo uma fedentina insuportável! O filhinho da puta também tinha cagado. Fiz um rápido sinal para que Renato fechasse  logo a porta do banheiro! E aquela dona ainda se achava fina! Grande merda! Enjoado com aquele cheiro, levei mais de uma hora para fotografar a porra daquele moleque! E a peruona ainda me fez repetir várias fotos! Gastei filme pra caralho! Finalmente, ela se deu por satisfeita! Jogou no balcão um maço de notas e se retirou levando o filhote que fazia chilique, gritando que não queria ir embora. Ela voltaria na semana que vem para pegar as fotos. Pelo menos, ela pagou um valor bem acima do que seria cobrado.

Fomos olhar o banheiro. Tudo cagado! No chão, nas paredes, o sanitário entupido, borbulhando cheio de merda até as tampas! Deu um trabalhão para limpar tudo aquilo! Gastamos um litro de detergente, de álcool e outros produtos de limpeza e ainda ficou um cheirinho longe...! A sacana da mãe deve ter cagado junto com o filhinho! Só um moleque não poderia produzir sozinho aquela tal quantidade de bosta! Por fim limpamos tudo, desentupi o vaso. Ainda bem que não apareceu nenhum cliente.


Depois do almoço, chegou uma cliente digna de nota. Era a Miss Felina da cidade que ia concorrer a um torneio internacional de Beleza. Queria fazer um Book para um evento que ocorreria no mês seguinte. Aí está um trabalho que me agradou! Além de lindíssima, a gatinha era muito simpática. Finalizado o serviço, ela me deu um convite perfumado para o tal evento. Depois que ela saiu eu passei o resto da tarde como um sonâmbulo, sentindo no ar o doce aroma daquele corpo macio que ficou no ambiente. O galinho Renato disse que eu estava parecendo um idiota!

Um pouco antes da hora de fechar apareceu no estúdio, o dono da academia de musculação que eu frequentava. O sujeito chegou numa arrogância só! Queria umas fotos para fazer um novo documento de identidade. Ignorei o comportamento daquele energúmeno e procurei agir de maneira profissional. Quando terminei o serviço, falei o preço. Disse que ele poderia pagar no dia que viesse pegar as fotos. Para minha surpresa, o cretino soltou uma gargalhada estrondosa, afirmando que não ia pagar porra nenhuma! Renato adiantou-se furioso! Segurei-o pelo braço e falei que deixasse quieto. Ainda rindo, o babaca retirou-se.

Na manhã seguinte, bem cedo, fui à academia e malhei tranquilamente. O babaquara do dono nem me olhou. Fez que não era com ele. Antes de sair, fiz questão de parar no lugar onde ele estava. Falando baixo para só ele ouvir, falei que não ia pagar a porra da mensalidade daquele mês. O puto logo se aborreceu! Gritou que isso era um absurdo e que se a moda pegasse ele iria à falência. Mandei ele se fuder e fui saindo. Louco de fúria, ele avançou em mim e mandou um soco violento! Pobrezinho! Era lento como um caracol no cio! Eu, além de musculação, treinava Boxe com um gato preto. Era meu vizinho e era lutador profissional. Tinha outro gato com quem eu andava que era da região oriental e me ensinara uma luta de nome impronunciável. Trocando em miúdos, enchi o gato vira lata de muita porrada e os amiguinhos dele, outros gatos sarnentos, musculosos e imbecis que vieram tomar satisfação. Todos eles tomaram uma coça maior ainda! Resumo da ópera: passei a frequentar a academia totalmente de graça e aquele bastardo ainda pagou pelas fotos e pagou em dobro! Minha mãe se admirou quando na semana seguinte cheguei lá em casa com bastante dinheiro. O galo velho ao saber da história me deu uma gratificação tripla! Em minha vida nem tudo são flores, raramente são! Mas tenho algumas poucas coisas boas para recordar.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

MAIS UM INFANTIL.

Minhas mãos doem hoje. Sim, as duas. A esquerda doi por conta de uma lesão sofrida o ano passado, foi uma idiotice que cometi e hoje não aguento mais segurar nada com firmeza sem sentir uma fisgada intolerável próximo ao polegar. Já fui no médico, já tomei antiinflamatórios, já fiz compressas com água gelada e quente e nada deu resultado, uma hora a dor passa, ou não. Fazer o quê? A direita dói porque ontem consegui fazer uma página inteira da biografia do Poe, normalmente levo dois dias para uma página, um dia para diagramar, fazer esboços, acertar os desenhos e detalhes e um outro para finalizar a página, que são os efeitos claro-escuro, mas ontem me empolguei e terminei a folha antes do anoitecer, resultado: mão cansada e as pontas do indicador e polegar sensíveis. Ossos do ofício.

Normalmente é pela manhã que tenho um melhor rendimento, gosto de aproveita-la para dar todo o meu gás pois nunca sei o que o dia vai me trazer, embora eu viva de rotina, mas gosto de garantir que um desenho, qualquer que seja ele, fique pronto, embora eu não saiba exatamente porque. Quando é um trabalho que vão me pagar por ele, aí justifica, mas quando dou vazão à minha criatividade e ponho no papel, a pergunta que fica é: porque o faço? Quem liga? Recebo um ou dois elogios de umas pessoas gentis e depois eles ficam esquecidos em envelopes. Penso que é porque eu não saiba fazer outra coisa e não goste de parecer um parasita, acima de tudo gosto do que faço, se um dia não pudesse desenhar mais, por algum motivo, creio que minha morte chegaria mais depressa. Me ocorre agora um pensamento nerd, li certa vez uma hq do Wolverine e do Destrutor; o poder mutante do Destrutor é gerar energia, tipo, dá pra acender um cigarro na palma da mão, mas um poder assim serve para que exatamente? Nem ele sabia. O mesmo se dá com o artista que não trabalha por encomenda. A ele só resta criar alguma coisa na esperança de que aquilo vai chamar a atenção de alguém e esse alguém se disponha a pagar por ela. Fora isto fica parecendo só uma vaidade besta.

Bem, estou divagando inutilmente, pra variar, o que eu queria dizer é que hoje não pude aproveitar a manhã pois tive que ir ao mecado com a Vera, saimos com um agradável tempo nublado, no estabelecimento caiu uma chuva caudalosa e nosso retorno foi sob o olhar cruel de um sol que parecia despejar óleo quente sobre nossas peles. Hoje em dia o tempo perdeu a razão, ficou louco e precisa ser internado num hospício. Noto também que antes, em cada esquina você encontrava um orelhão, por aqui eles sumiram. Em todo estabelecimento você via um relógio, podia ver as horas grátis, hoje os relógios e os orelhões sumiram (culpa dos celeulares?), estão se tornando peças de museu, e os museus estão fechando, tão mandando tudo para os computadores e internet. É a Skinet, a Matrix e sei lá mais o quê.

Bem, melhor parar de falar merda. Acabando aqui vou mergulhar as mãos em água gelada e partir pra mais uma página. Não vejo a hora de concluir este projeto do Poe.

Fiquem com mais um desenho para um livro infantil e tenham todos um excelente fim de semana.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

NUMA E A NINFA ( CENA 8 )


Semana passada (sábado pra ser bem exato) fui me encontrar com o mano Thony Silas, ele desenha pra Marvel e DC e é talvez o único que não se incomode em conversar com meros mortais, todos os outros com quem me esbarrei pareciam que o fato de desenhar gibis para o mercado gringo os tornavam  uma classe superior de pessoas. Lá estavam também uma rapaziada que desenha, gente jovem, batalhadora, honesta, muitos deles sustentam suas famílias com suas ilustrações, todos com suas pastas cheias de folhas e traços maravilhosos. Eu em particular me impressiono fácil com coisas que sou incapaz de fazer. Páginas e páginas minuciosamente detalhadas do Batman, do Lanterna Verde, Wolverine e coisas tais. Exatamente como vemos ao folhear as revistas nas bancas, e esse é o problema: já tem quem faça aquilo sem os probleminhas que os editores de cara detectam, uma imperceptível falha de anatomia, de perspectiva ou um hachuriado não condizente com a cena. Existe ali o talento e o sonho de vingar, aparecer, publicar, viver do que gosta e tem competência para fazer. Mas novamente o mercado entra em crise, as editoras de heróis focam no seus produtos para o cinema, há quem diga que a Marvel decretará o fim dos quadrinhos, já ouvi falar em demissão de funcinários nessas empresas. A mim isto pouco importa, mas para estes rapazes restará, quem sabe, a sorte de migrar seus talentos para publicidade, designs para games ou algo do tipo. Vi a mim mesmo naqueles moços anos antes, só que não tinha 10% do talento que eles tem. Eram outros tempos, uma era pré internet. Fui em muito evento tentando mostar meus desenhos, fiz muitas páginas para os agenciadores que com certezam as jogaram na lata do lixo. É parte do sistema. Minha teimosia me levou ao meu traço pessoal e publicação modesta dos meus títulos e sei que qualquer degrau acima, se galgá-lo, é lucro.
Na verdade me senti mais velho ali, não há como não sentir, ninguém estava interessado no que eu tinha para falar ou mostrar, nem me importei, pra ser sincero. A realidade é que eu, de fato, não tinha nada ali para dizer ou mostrar, se havia naquele meio, um mundo no qual eu podesse transitar, ele a muito ficou para trás. Deixei o pessoal lá, me despedi do Thony e fui embora. Antes passei no espaço Geek da livraria Cultura para dar uma olhada nas HQs, tava lá em destaque a Enciclopédia dos Quadrinhos e me lembrei que meu nome consta num dos verbetes. Na prática, que diferença isso faz? Tudo vai ao pó. Antes aquelas estantes eram recheadas de títulos, de todas as editoras nacionais e gringas. Hoje este espaço deu lugar aos games, séries de tv e estatuetas assim como os mega eventos que pegam o nome dos quadrinhos para promover a cultura pop do qual os quadrinhos fazem parte, mas numa posição que está longe de ser o destaque. Dizem que tudo é cíclico, talvez a arte sequencial volte a abastecer essas mídias e ser sua força motriz, talvez não.

Me dirigi ao Cais de Santa Rita para pegar o meu ônibus.

Para vocês, mais uma imagem de Numa e a Ninfa.






sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A POWER GIRL QUE NÃO DEU CERTO.


Sexta feira, já?!?! Bem, a passagem meteórica do tempo nem deveria me deixar perplexo, mas o que fiz exatamente esta semana? Nem me lembro direito. Tem vezes que este minúsculo quartinho atulhado de livros e materiais de desenho que uso como estúdio é o ínico lugar do mundo onde desejo estar, mas tem vezes que me sento à prancheta pela manhã e murmuro: "Ó Deus, de novo?" Me vejo como o ratinho correndo velozmente naquela escadinha circular sem nunca sair do lugar - Já usei esta metáfora mas não me vem nada novo à mente.
Admita, cara, no ringue da vida você ainda não venceu nenhum round, apenas é duro o bastante para não ter ido à lona nestes 51 anos, mas não tem muito fôlego mais. O tempo é cada vez mais curto.

Na verdade nem era pra estar aqui com esses questionamentos; enquanto silenciosamente eu enxugava a louça para a Verônica agora após o almoço, uma série de pensamentos invadiam a minha cabeça. Estamos um tanto calados esses dias, eu a entendo, até aqui ela tem suportado bem os baixos da vida, mas deve estar farta da rotina. Acho que ambos perdemos o ônibus e aguardamos um outro que tarda.
O chato é saber que a origem da depressão é apenas dinheiro. Ele está em algum lugar e é meu. O último livro foi entregue já vai fazer duas semanas e até agora não enviaram o contrato para efetuarem pagamento. Não era assim antes.

Vejam bem, posso até ser criticado por reclamar, sendo eu um discípulo (desigrejado) de Jesus, afinal Ele mesmo dissera que neste mundo haveríamos de ter aflições, mas não falo aqui, graças a Deus, de doenças incuráveis ou catastrofes naturais que surjem na vidas das pessoas e contra as quais nada, ou quase nada, se pode fazer, falo de uma injustiça sofrida. Existe trabalho, existe demanda, mas a incompetência e a burocracia emperram a engrenagem.

Estes pensamentos me levam ao desenho de hoje. A Power Girl da DC. Pra ser sincero nunca li um gibi desta personagem, mas conheço bastante de nome, vi umas páginas interessantes na net, inclusive ela saindo no pau com a Mulher-Maravilha. E tome porrada!


Bem, fiz este desenho meio a contragosto. Explico: um conhecido tinha um sócio e este atualmente está trabalhando no estúdio de um dos fodões que trampam pra Marvel e DC e este ex-sócio dissera que pinups de personagens de hq costumam render uma boa grana no mercado livre e o estúdio recebia imagens para serem vendidas no site deles ficando com uma pequena porcentagem. Pensei, pode ser uma boa. Sabia que os valores não eram lá muito altos, só mesmo artistas muito consagrados ganham uma boa soma com isto, tipo Mike Deodato, mas ao entrar no site e ver os preços que vendem as artes quase caí de costas! Sério! Algumas não chegavam a 20 reais! Ainda assim para não parecer soberbo fiz esta Power Girl. Enviei o original com um contrato assinado para o estúdio do artista e nem me lembrei mais do assunto até ver este desenho numa pasta aqui no meu computador. Como eu imaginara, deve ter dado em nada.

Ainda existem algumas possibilidades, mas enquanto elas não se concretizam a vida segue escorrendo pelo ralo.

Tenham todos um bom fim de semana e perdoem mais este desabafo.






terça-feira, 18 de novembro de 2014

NOITES QUENTES, CORAÇÃO GELADO.




Não tem jeito, quando o calor chega por aqui, não há como evitar. E olhem que este ano até que demorou! Não sei se é efeito da idade mas tenho gostado demais de ficar em casa, antes uma saída às compras ou mesmo ir até a cidade para resolver alguma coisa era um bom pretexto para sair da rotina, comer algo diferente, sei lá, mas agora isso tem me aborrecido terrivelmente. A mesma coisa se dá com os eventos de quadrinhos, antes queria fazer parte do meio, mesmo me sentindo um corpo estranho, agora tenho evitado o quanto posso.
Esta semana tive que ir ao Shopping Guararapes, que é o mais próximo aqui de casa, e só na viagem de ida dá pra contar uns casos. As pessoas no ônibus parecem gastas, sempre gordas, acho que tem gordura até no cérebro, sempre suando em bicas. Falam alto aos celulares - principalmente as mulheres - eu estou gordo, mas não falo no celular, sequer tenho um. O que tenho deixo com a Vera, que fala constantemente com a mãe dela. Olho as pessoas, sempre estressadas, correndo para lugar algum, mas sempre numa mesma direção: o fim inevitável.


Geralmente tenho que sair à rua para descascar algum abacaxi; outro dia tive que ir ao Atacadão trocar uma carne (e olha que era Friboi!). Assim que Verônica abriu a embalagem um forte cheiro de carne estragada invadiu nosso apartamento e parecia não querer sair nem com as janelas todas abertas. Não acho que o mercado esteja comercializando carne estragada porque quer, acho que algum cliente desistiu da compra e o produto deve ter ficado fora da refrigeração tempo suficiente para deteriorar antes que fosse colocado de volta na geladeira e demos azar de pegar exatamente aquela.
Como sempre a burocracia para efetuar a troca foi algo surreal, tivesse eu a paciência de outrora transformaria isto numa hq. Primeiro fui até uma senhora que fica na entrada embalando as bolsas. Ela me deu um papel rubricado para eu levar ao gerente do setor. O gerente do setor perguntou qual o problema com o produto, de forma educada eu o convidei a cheirar a carne, ele recusou. Me deu um papel lá com a assinatura dele e me pediu para voltar até à mulher que ficava na entrada. Voltei. Ela pegou uma ficha e começou a preencher meus dados pessoais. A todo instante ela tinha que interromper para embalar a sacola ou bolsa de alguém. Depois de muitas perguntas (só faltou ela querer saber que número eu calçava) assinei a ficha e me dirigi ao Atendimento ao Cliente. Um cara carimbou o papel e foi procurar a funcionária responsável para assinar a folha e a minha nota de compra. Aonde a bendita menina estava, ninguém sabia. Até que apareceu esbaforida. Rubricou e fui procurar outro produto e ao passar pelo caixa ela precisava dar mais uma rabiscada como sinal verde para concluir o processo. Feito, paguei a diferença e finalmente pude sair.
Do mercado até o ponto dava para ver vários ônibus que me serviam, passando ininterruptamente, foi eu chegar e eles sumiram. Típico. Depois de vários minutos peguei um cheio, esvaziou no caminho. Finalmente em casa. Desci com o lixo. Tomei um banho, jantei, escovei os dentes e me sentei à prancheta. Que mais posso fazer além de brincar de ser desenhista?


PS 1 - Estes são desenhos para um livro infantil.
PS 2 - Não fiz revisão, então me perdoem algum erro.

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

NUMA E A NINFA ( CENA 7 )

Atualmente me sinto como um cara numa balsa, sem os remos, em um rio proceloso. Não tenho como me direcionar, então nada me resta a não ser esperar que as corredeiras me levem a um destino menos cinzento. Estou sendo dramático? Não sei, talvez. Entreguei um livro esta semana, quando vão me pagar, não sei. Antes era cumprir o prazo, assinar contrato e receber na data prevista, hoje a burocracia subverteu tudo, parece até que o faxineiro da empresa precisa dar o seu aval para que as artes sejam aprovadas. Não adianta reclamar, se quiser trabalhar, faça o que lhe pedem e aguarde sem reclamar, pois podem te chutar e por um outro qualquer no seu lugar por um preço bem menor - aliás, já aconteceu com a linha dos infantis, percebi que qualidade não é levado em conta.

Me prometeram um outro tomo da coleção, acho que será O Mulato, do Aloísio de Azevedo. Mas quando virá, não dá pra saber.

Semana passada participei de um encontro de desenhistas em Olinda. Proposta interessante a de cada um desenvolver uma hq nos três dias do evento, algo meio de improviso. Foi legal o papo entre pessoas que no meio de toda a confusão em que vive este país ainda encontra tempo e inspiração para criar uma história em quadrinhos envolvendo nossa realidade com um pé bem fincado na fantasia. Na real eu estava pouco inspirado, minha linha de produção envolve estudo e concentração, solidão e calma, mas ainda assim fiz uma página e meia ( tá certo dizer "uma página e meia"?), não fui os outros dois dias, não consegui.
Não posso dizer que me senti um velho, mas só tinha gente nova lá, o cara mais velho depois de mim, tinha 45 anos, eu, em dezembro, completo 52. O Thony Silas, um jovem e simpático rapaz que produz para a DC Comics, consegue a proeza de esboçar diversas páginas de uma hq em uma tarde. Os traços dele parecem de uma espontaneidade sobrenatural! Bem, cada artista (ou arteiro) com seu método.

Depois de quase um mês parado, ontem voltei a trabalhar na biografia do Poe, e assim ela se arrasta.

Fiquem bem e com mais uma imagem de Numa e a Ninfa.




segunda-feira, 10 de novembro de 2014

LUCIANO FÉLIX, UM GRANDE ARTISTA.


Conheço o Luciano a muitos anos; desde que cheguei a estas terras quentes sou gentilmente convidado para os eventos de hqs (antes rolavam bem mais) e lá está ele, sempre um tanto reservado, mas receptivo e vez por outra com uma tirada bem humorada, o que é natural, pois suas influências no desenho, segundo ele mesmo, são Sérgio Aragonés, Mort Drucker e outros da revista Mad. Aliás, ele mesmo foi colaborador da edição nacional da Mad por muito tempo. Um artista premiado que com certeza ainda ouviremos falar muito.

Além do talento para ilustrar e pintar, uma qualidade que muito me chama a atenção é sua humildade, a arte só ganha com isso. Na boa, o mundo está recheado de soberbos e arrogantes e o meio dos quadrinhos é infestado deles.

A arte que ilustra esta postagem foi criada por ele, nela vemos alguns dos heróis do quadrinho nacional e fiquei lisonjeado por Zé Gatão ter sido lembrado. Apoiada no ombro do felino vemos a Velta, do grande (literalmente) Emir Ribeiro. Bem no centro destaca-se o Batmorcego, criação do próprio Luciano.


Ele está com um novo álbum na praça, "Wander, Herói Porque Sim!". Cheguei a divulgar por aqui, lembram?

Dei uma folheada e cheirada no livro e está com um acabamento primoroso. Infelizmente não tenho detalhes de como ele pode ser adquirido, mas é só acessar a página dele no Facebook e pedir informações ao próprio. Vale demais a pena.


terça-feira, 4 de novembro de 2014

O GOLEM



Semanas atrás eu divulguei aqui o curta metragem do Cláudio Ellovitch, o PRAY, lembram? Bem, o referido filme foi o vencedor do festival em Londres ( http://entrementes.com.br/2014/10/curta-brasileiro-de-terror-pray-ganha-festival-internacional/?fb_action_ids=589505451155120&fb_action_types=og.likes ). Parabéns a ele, mais que merecido. Como ele mesmo ressaltou em sua página no Facebook, conseguiu mais oportunidades e apoio em outros países do que em sua própria terra.


Ele me procurou tempos atrás e me convidou juntamente com o ciberpajé, Edgar Franco, para juntos trabalharmos no álbum em quadrinhos "O GOLEM", baseado na obra de Gustave Meyrink. Ele inscreveu o projeto no Proac deste ano mas não fomos aprovados. Pena. Talvez não fosse pra acontecer mas eu fiquei desapontado, contava com este trabalho para, após o encerramento do Poe, dar continuidade com os quadrinhos, pois se não estiver atado a um compromisso não sei se farei novas hqs. Quem sabe? O Golem seria tremendamente desafiador. Bem , por outro lado não sei se teria energias para dar conta do trampo, cumprir o prazo e essas coisas. O Cláudio já afirmou que não vai abandonar a empreitada e pretende ir atrás de algum outro patrocínio no devido tempo.
Bem, veremos o que nos aguarda no futuro.


Esses foram os estudos de personagens que fiz para podermos nos inscrever no Proac, são arcabouços, ainda teríamos que definir melhor o estilo a ser adotado na hq, buscaríamos algo mais perturbador no traço.


Esta semana não sei se conseguirei voltar aqui para falar com vocês, tá tudo muito corrido.


Até a próxima.




sexta-feira, 31 de outubro de 2014

NESTABLO RAMOS CHEGANDO COM ZONA ZEN!



Bom dia, caríssimos e caríssimas!

Meu amigo, o grande artista e gente fina Nestablo Ramos, está com mais um projeto em andamento, depois do ZOO 1 e 2, P.E.T., Carcereiros, Natureza Humana, Bíblia em Quadrinhos (Adão e Eva) e muitos outros, chega a vez de Zona Zen, uma série muito divertida que tive o prazer de ler quando ele postava as páginas semanais no seu blog. Mas as aventuras do personagem e sua turma só chegarão ao público em forma de livro se tiver apoio. Sim, mais um crowndfunding.

O próprio Nestablo defende seu produto nesta página:

http://www.kickante.com.br/campanhas/almanaque-zona-zen

Dá uma chegada lá, assista o vídeo (não custa nada) e saiba mais sobre o álbum e suas recompensas.

Já falei sobre este fenomenal artista aqui neste blog outras vezes e nunca é demais repetir: pra mim ele é um dos dois melhores quadrinistas brasileiros da atualidade, o outro é o Allan Alex. Só temos a ganhar com mais um material dele na praça. Do jeito que anda nosso país (muito mais agora) precisamos de arte e bom humor.

Vamos dar uma força para o Zen finalmente ganhar o seu álbum?


Um excelente fim de semana a todos

terça-feira, 28 de outubro de 2014

VOLTANDO ATRÁS.





Já escrevi sobre meu álbum intitulado Phobos e Deimos aqui no blog, se quiserem ler um pouco a respeito dele e ver umas imagens é só dar uma conferida no link:  http://eduardoschloesser.blogspot.com.br/2010/06/phobos-e-deimos.html  

Assim como os outros álbuns que criei, este também é a manifestação das minhas insatisfações, é fúria pura. Amargo e desesperançoso, reflete bem o que eu sentia no período que o criei. Visualmente não tem nada a ver como o universo antropomorfo de Zé Gatão.

Ficou guardado na minha gaveta por quase 10 anos e ao longo deste tempo mostrei fragmentos dele para algumas editoras e sequer recebi retorno, a HQM se interessou e ficou de publicar, mas depois de mais de um ano de indecisão resolveram desistir. Normal, a situação não está boa pra ninguém e não convém se arriscar a por na praça um livro, digamos, "duvidoso". E por falar em situação ruim acho que vai piorar mais daqui pra frente.

Chega no cenário uma nova editora, chama-se MINO, pelo pouco que vi dela no Facebook parece que vão lançar uns materiais nacionais muito expressivos, coisa boa mesmo! 
Entrei em contato. Pediram pra eu enviar imagens do livro para dar uma analizada. Ok.
Selecionei 10 páginas de cada história, escrevi minha defesa do projeto e enquanto as imagens carregavam no e-mail, aproveitei para ler uma entrevista que fizeram com os editores. Caso queiram ler também o link é este: 

http://www.oesquema.com.br/vitralizado/2014/10/17/editora-mino-e-o-festival-de-bandas-punk-que-e-o-mercado-brasileiro-de-quadrinhos/

Legal demais a ideia de pegar autores ainda sem os "ranços" profissionais, entendi que é meio que exibir um diamante ainda em estado bruto, gosto dessa ousadia, a falta de refinamento muitas vezes trás o que o artista tem de autêntico. 

Seguindo na leitura, num determinado ponto, algo inesplicável me bateu, não sei dizer o que era. Imediatamente interrompi o carregamento das imagens e joguei na lixeira a mensagem que tinha escrito. Desisti de enviar o Material pra Mino. Sei lá, não é pra mim, não faço parte disso, não poderia. Não saberia explicar mas Phobos e Deimos não seria aceito. 
Estive já em muitos festivais de quadrinhos e em todos eles me senti um corpo estranho, eu não pertencia àquele meio, mesmo produzindo hqs, tive a mesma sensação ao ler a entrevista com a editora.   

No fundo, sinto que Phobos é algo que eu mesmo deva fazer, como o meu primeiro Zé Gatão. Sei que algumas imagens soarão agressivas aos olhos incautos, principalmente as de sexo. Ainda há muita resistencia a certos temas e uma editora não se arriscaria, assim como fez a HQM (e olhem que o editor da HQM é meu chapa!). 

Quando vendo meu primeiro Ze Gatão hoje, eu aviso ao comprador o que ele vai encontrar na obra. Creio que eu tenha que fazer o mesmo com Phobos e Deimos. Como colocarei na praça? Não sei. O ideal seria eu mesmo pagar uma tiragem baixa, mas não disponho de recursos, por mais que as condições para auto-publicação sejam acessíveis hoje em dia. Financiamento coletivo? É uma opção, mas só usaria como último recurso. Veremos. Espero que eu não leve outros 10 anos para retirar essas velhas e já amareladas histórias da gaveta.

As artes de hoje foram feitas para um livro infantil.

Aperto de mãos para os amados e um cheiro gostoso para as amadas. 



quinta-feira, 23 de outubro de 2014

ZÉ GATÃO: DIES IRAE.


Ah, pelo caminhar da carruagem tão cedo não volto aos meus quadrinhos pessoais. Realmente não dá, não é só exatamente uma questão de tempo, mas de paz de espírito e momentos de contemplação para elaborar a coisa como gosto. Não se esqueçam que tenho um álbum prontinho (PHOBOS E DEIMOS) já vai fazer uma década e ainda não tenho a menor ideia de quando isto virá a público, ele ficou quase um ano na HQM sendo cozido e no final acharam que era arriscado demais para a editora. Pena, pra mim este livro embolorou faz tempo, mas ainda gostaria muito de trabalhar em um novo material nos mesmos moldes, histórias que se cruzam, relacionamentos mal resolvidos, sonhos desfeitos, ação, violência e todas as coisas que se tornaram marcas do meu trabalho. Tenho a coisa toda na mente, mas precisaria me concentrar e colocar no papel. Mas primeiro preciso acabar a bio do Poe, dar continuidade ao NCT (que está parado), isto sem contar que preciso desesperadamente de uma linha de serviço que me dê certa tranquilidade financeira, do contrário estrei sempre com a cabeça neste caos. No passado estes vendavais foram forças motrizes para que muitas das minhas hqs ganhassem vida, hoje, com as responsabilidades como chefe de família não é mais possível. As energias se esgotam com o avanço da idade.

Tudo isto, sem contar com o Zé Gatão, tenho uma hq nova dele que está incompleta. Bateu uma vontade doida o ano passado e comecei a trabalhar, depois de umas 10 páginas precisei interromper e nunca mais pude pegar de volta, esta eu terei que concluir, mas para publicar aonde? Não podemos nos esquecer que ZÉ GATÃO- DAQUI PARA A ETERNIDADE ainda está esperando ser lançado pela Devir.
Ainda tenho dois projetos com este felino, mas sinceramente não sei se será possível corporifica-los. Talvez sim, talvez não. Enquanto isto, fiquemos com cenas como esta, que poderiam ter feito parte de uma bela e horripilante história.


Nos vemos semana que vem, se Deus quiser.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

AMARGOS TEMPOS IDOS.



As dificuldades dos dias presentes me reportam aos anos 90 em São Paulo. Lá, durante quase toda a década, foram dias de muita labuta e quase nenhum dinheiro. Trabalhei como capista para algumas editoras e fiz diversas ilustrações para outras tantas, todas publicadoras pequenas (bem, com exceção da Escala, que de pequena nunca teve nada, mas pagava como se minúscula fosse), então grana para dar aquele pulo mais alto nunca foi uma realidade naqueles tempos. Fiz artes para serigrafia e criei estampas para camisetas. Pintei retratos a óleo e tentei fazer a vida com comércio arrendando uma banca de jornal (fiz um post sobre isto) mas nada deu resultado. Nem posso dizer que hoje mudou tanto. Acabei construindo um nome que me permitiu ter acesso a outras portas, em parte por causa de Zé Gatão e também por conta dos álbuns onde eu ensinava a desenhar, que me levaram ao ramo de ilustrações de livros, e isto sim me permitiram ter uma vida menos estafante, pegar uma coleção de muitos títulos dá pra fazer algum planejamento, mas acontece de alguma coisa falhar, como por exemplo mudanças de direção da empresa, ou o autor do livro quebrar o braço e coisas assim. Nem sei bem o que aconteceu nesses últimos meses, e aí é como se eu voltasse no tempo.

Em Sampa, não lembro exatamente quem me apresentou a um gringo, e até hoje não sei exatamente qual a nacionalidade do cara, se era chileno, boliviano ou uruguaio, sei lá, o cara trabalhava confeccionando placas e toldos, fazia um trampo muito caprichado. Ele tinha um personagem de histórias infantis muito expressivo e precisava que eu desse corpo às suas ideias. Fiz umas aquarelas que chamaram muita a atenção de editoras mas parece que o texto dele precisava ser burilado e a coisa deu em nada. Não vi cor de dinheiro com aquilo, exceto uns trocados que ele me levou umas duas vezes para me estimular a fazer o meu melhor. Quase tudo que eu ganhava com meus frilas eu mandava pra Samanta, minha filha. Sempre paguei os estudos dela, aliás, a única coisa que pude fazer.

No período deste gringo eu já namorava a Verônica, mas um pouco depois destes acontecimentos ela voltou para Pernambuco e o gringo me procurou para falar de um outro trabalho. Um coroa, muito distinto assumira um dos tantos cinemas de putaria do centro da cidade, reformou e tentou torna-lo um local decente (se é que dá pra chamar assim) para assistir um pornozinho, contratou seguranças para fiscalizar e impedir que os veados ficassem se pegando no banheiro ou no escurinho da sala de projeção. Nesta época muitos cinemas desta natureza não usavam mais o bom e velho projetor de 35 milímetros, mas um sistema de projeção em VHS, ou seja, numa cabine o vídeo cassete rodava o filme e de uma forma que não saberia explicar, o filme era projetado no telão.

O referido cinema (que não lembro mais o nome - me perdoem) ficava no Largo do Paissandú. Exatamente nesta rua à direita de quem vem do Anhangabaú.

O coroa planejava decorar as paredes dos corredores do cinema com figuras de mulheres bonitas e o gringo me indicou como a pessoa certa para a tarefa. Como estava precisando muito de dinheiro, aceitei a mixaria que me ofereceram. Já tinham até os modelos a serem retratados, todas de revistas eróticas. Executei, se não me falha a memória, umas dez pinturas naquelas paredes, todas entre dois e três metros. Eu misturava corantes na tinta acrílica branca, própria para pintar casas e assim ia encontrando os pigmentos. Era uma trabalheira do cacete, o gringo fazia as misturas, mas depois de um tempo vi que o cara tava perdendo o tempo dele, ele ganharia mais fazendo seus toldos, dispensei-o e fiquei lá sozinho, perdido nos meus pensamentos, me perguntando porque não virei, sei lá, biólogo, astronauta ou oceanógrafo. Minha alquimia me permitia encontrar com relativa facilidade o tom de pele, mas o mais difícil era desenhar na parede e deixar o desenho proporcional, eu subia e descia uma escada vacilante mil vezes até que estivesse do meu agrado, só então eu começava a pintura.
Sabia que ninguém se interessaria por perfeição naquelas obras, mas eu nunca consegui fazer algo que não estivesse bom o suficiente, se a arte não presta, vai pro lixo. Eu tinha que ilustrar aquelas beldades o mais próximo da realidade que me fosse possível com aqueles parcos materiais. Sem modéstia, alguns ficaram muito bons, outros não consegui, mas depois de uns dez dias (eu pintava um painel por tarde) cheguei a um ponto em que tive que me dar por vencido e não caprichar demais, não seria valorizado e o dindim não compensava.
Quando pintei as modelos próximo à entrada do estabelecimento fiquei com medo de ser visto pelo meu pai, ele sempre passava por aquela rua em determinada hora da noite quando voltava do escritório de um amigo dele, não seria legal ele me ver num ambiente daqueles, mesmo que fosse apenas a trabalho. Mas felizmente nunca aconteceu.

Enquanto executei o serviço aconteceram uns fatos pitorescos. A moça que ficava na bilheteria era uma morena alta e bonitona, sempre que ela tinha um intervalo vinha bater papo comigo e me cobrir de elogios pelas pinturas, pra desespero de um dos seguranças, que mesmo sendo casado dava em cima dela. A esposa do cara tinha dado luz a uma menina e ele não sabia que nome daria à criança. Sugeri um nome comum, é melhor que ficar inventando. "Estou pensando em chamar de ANANA." disse o infeliz. "Não, cara, Anana rima com banana, não faça isso com a sua filha"- disse eu, mas foi o mesmo que falar com uma porta.
Uma noite entrei na cabine onde estava a morena, para tomar um copo de água e ela assistia o filme pelo monitor. A cena mostrava uma loirinha bombada sendo possuída por trás por um cara cavaludo, com boa dose de fúria. "Como alguém pode aguentar uma coisa dessas?"- perguntei. "Um sexo selvagem as vezes é muito bom!"- respondeu ela. Eu estava sentado ao lado dela e ela apertou o meu joelho levemente. Tentação grande, mas eu acredito em fidelidade, fiz que não percebi e voltei ao trabalho.
A garota não foi mais falar comigo. Perguntei se tinha acontecido alguma coisa e ela respondeu que estava chateada comigo porque eu não havia dito que era casado e que tinha três filhos. Meu primeiro impulso foi dizer que não tinha satisfações a dar a ela, mas apenas respondi que não era casado e só tinha uma filha que morava no Rio de Janeiro. "Ué, mas o segurança me garantiu que você era casado e traía a sua esposa!" "Bem, o cara é um puta mentiroso, mas que diferença isso faz?" Evitei contato o máximo que pude, aquilo não podia dar boa coisa.
Havia um outro segurança lá, um cara alto, gordo e imbecil, com uma voz bonita pacas. Era locutor de rádio, mas estava na merda, como eu. O cabelo do cara eu preciso descrever aqui: era comprido mas com as orelhas de fora, no topo da cabeça era como se fosse o ninho de um condor. Na boa, nunca vi um sujeito pra falar tanta bobagem. Eu o evitava como a uma praga.

Uma vez o meu empregador veio com uma foto da escultura do Príapo, aquela figura bizarra de tranças na barba e patas de bode com um enorme pênis em riste e pediu-me para pinta-lo na parede do corredor após a roleta. Era um local mais discreto. Fiz a contra-gosto. Procurei na net uma imagem da estátua pra postar aqui mas mudei de ideia por ser de muito mau gosto.
Recebi pelo trabalho e me fui com mais esta experiencia nas costas.
Não posso negar que toda vez que passava pelo Paissandú eu ia rever as minhas pinturas. Ficaram boas. E com desgosto eu notava que vândalos pichavam  caralhinhos na direção das nádegas das moças, balões de pensamento com frases obscenas e por aí adiante. O segurança devia estar pegando a morena para não ver isto. Ao fim de alguns meses, as pinturas estavam bem sujas e maltratadas.
Pena que só existe uma foto meio desfocada que o dono do cinema tirou de mim no topo da escada malemolente enquanto eu passava tintas num dos desenhos, mas ela deve estar num dos álbuns da minha mãe.

Tempos depois recebi um recado do dono do cinema para procurar uma certa mulher num prédio que ficava na Avenida São João, próximo da Galeria do Rock. Lá, todo um enorme apartamento estava sendo reformado para virar uma casa noturna, na verdade, um puteiro. Fui atendido por uma moça coxuda, de shorts curtíssimos, puta toda vida, que dizia ser a gerente do local. Queria que eu pintasse uns casais transando nas paredes. Tinha que ficar tudo pronto em três dia para a inauguração, a grana era ainda menor do que haviam me dado no cinema e eu já estava de saco cheio daquele tipo de coisa. Falei que tinha outro trabalho e não poderia atende-la. Ela perguntou se eu não indicaria alguém. Falei que não conhecia ninguém. Me mandei, pra mim tinha sido o suficiente.

terça-feira, 14 de outubro de 2014

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

CROWNDFUNDING.



Bom dia, amados e amadas.

Parece que não tem jeito mesmo, acho que daqui até o dia da minha partida vou andando sempre em ritmo acelerado, não consigo mais sentar aqui com calma e elaborar um texto com tranquilidade, assim como as artes são sempre urgentes, sempre pra ontem e aquelas que me nascem da alma, que namoro um tempo antes de acha-las dignas de serem públicas, vão morrendo nos esboços ou dentro da minha mente. Dada a pressa, pois tenho coisas urgentes pra fazer daqui a pouco, vou digitando e sem fazer revisão, então se encontrarem muitos erros, relevem, please.

Pois é, o Crowndfunding, né? Parece uma coisa muito legal (e é, de fato), mas nunca achei que fosse válido para mim. Entrando em qualquer destes sites de financiamento coletivo, onde o Catarse parece ser o mais popular, encontramos inúmeros projetos legais precisando de apoio, fica até difícil selecionar um para abraçar. Em se tratando de histórias em quadrinhos, então, nem se fala! Um melhor que o outro. O que são 10, 20 ou 30 reais? Com este valor você come num fast food e olhe lá! Estes valores podem tornar realidade o sonho de um artista em ver seu trabalho publicado e nas mãos do público. E aí vem o meu porém: vejamos, tenho um projeto em mente, convoco o público interessado a bancar a produção. Preciso de X em dinheiro para lançar um número Y de exemplares. Se a cota alcançada for no limite do que se tinha imaginado, os contribuintes receberão o item em casa com alguns bônus exclusivos. Muito justo, eu que me interessei pelo projeto, paguei por ele, recebo por ele. O problema é que não criamos um mercado. O material não circula, não fica exposto nas prateleiras das livrarias, bancas e etc, não atingem um público amplo. Imaginemos que a cota alcançada supere o que eu tinha sugerido, posso imprimir um pouco mais e comparecer nos eventos para vende-los e tals, ou mesmo pela internet, mas esbarra-se sempre na questão da divulgação e distribuição que é sempre precária. É certo que o SEU público, havido por ler suas obras, pagaria para tê-lo em mãos com muita satisfação, principalmente com a comodidade de rebe-lo em casa, autografado e com desenho exclusivo, mas um possível novo leitor, creio, nem fica sabendo da empreitada. Quantos já foram publicados sob este sistema e nem sabemos que existem? Eu mesmo me espanto com a quantidade de coisas que saem desta maneira e só vou tomar conhecimento por um destes canais sobre HQs do Youtube.

Acho então inválido o sistema de financiamento coletivo? De forma alguma, pelo contrário, é uma forma legítima de publicar seu material, de atingir ou formar um público, ainda que reduzido, em certa medida. É uma forma de realizar o sonho de ver suas ideias compartilhadas por outros. Só acho uma pena que tenha que ser assim, você ter que bater nas portas das pessoas, fazer campanha quase como um político, para arrecadar grana e trazer seu trabalho à tona.

Fica evidente que temos produção, a qualidade chega a surpreender de tão boa, material de todo tipo, e parece não ter público para estimular editoras a fazer o que elas deveriam fazer e assim ter um terreno extremamente fértil de quadrinhos até para exportar.

Muitos já me sugeriram o sistema crowndfunding; ao invés de esperar as editoras publicarem meu Zé Gatão e outros álbuns, eu deveria publica-los eu mesmo com a ajuda do público.
A ideia me passou pela cabeça, mas não sei, esbarro em dois problemas: falta de tempo para administrar a divulgação que é necessária e a execução dos prêmios aos contribuintes, além de gerenciar toda a produção do álbum, papel, gráfica, envio pelo correio e por aí vai. Tem também a questão da minha autoestima, tenho sérias dúvidas se eu alcançaria a cota almejada. Até mesmo os livros que ainda são disponíveis no mercado, muitas pessoas próximas a mim não compraram, que dirá pagar por algo que ainda será produzido.

 
Disse isso tudo porque recebi uma ligação de um dos membros da PADA. Estão interessados em relançar aquele álbum do Zé Gatão que eles colocaram na praça em tiragem limitadíssima em 2011, desta vez pelo sistema de financiamento coletivo (conheço gente, fã do felino cinzento, que vai dar mil pulos de alegria).
Respondi que só concordaria se pudesse adicionar algumas histórias extras no volume, duas delas coloridas. Vamos marcar uma reunião para acertar tudo. Se rolar, só vou topar porque eles é que vão tratar de toda a produção e divulgação do álbum, eu me ocuparei de ceder as histórias e confeccionar os brindes, que penso serão desenhos originais (terei que dar nó em pingo d´agua) e camisetas com estampas exclusivas, mas vamos ver, até lá muita água vai rolar debaixo da ponte.


Bom fim de semana a todos.    

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

ZÉ GATÃO POR ALLAN ALEX.


Sempre achei muito espinhoso o caminho trilhado por aqueles que pretendem viver de arte. Viver mesmo, falo daquele que tira seu sustento da sua escrita, de suas cores e pinceis, ou instrumentos, melodias, de suas histórias em quadrinhos, da lente de sua câmera ou de sua poesia, não me refiro aquele que faz arte por passatempo (na falta de palavra mais adequada). Isto porque a arte, embora de suma importância para a vida, não é devidamente compreendida e aceita por todos num determinado momento e ainda poderia se argumentar que é supérflua; em outras palavras, dá para viver sem imagens e cores, mas não se vive sem pão nem água. Arte é algo que não tem preço mas não custa barato. Quem consome arte é quem tem grana para gastar, o artista gosta é de dinheiro, não dá pra ser muito romântico quanto a isto. É bem verdade que ele faria arte mesmo passando fome (Van Gogh, Mozart, Poe) mas se puder se alimentar dos frutos de seu ofício, melhor, claro.

Mas comecei a divagar, como sempre, o que pretendia mesmo dizer é que apesar dos reveses da vida de artista pobre existem muitas satisfações. Deixando de lado as óbvias, uma delas é quando encontramos no caminho outro visionário com quem nos identificamos, não exatamente o traço e as ideias mas na forma em comum de ver a vida e tentar corporifica-la no branco do papel.
Eu já tinha ouvido falar no Allan Alex, mas nunca tinha lido nada dele até que tive nas mãos O Cabeleira, adaptação em quadrinhos da obra do Franklin Távora. Na minha opinião uma das melhores hqs de todos os tempos. Uma narrativa e ângulos de câmera que me faltam palavras para descrever de tão brilhante. Virei fã no ato.

O livro O Cabeleira, que ilustrei, nos aproximou e nos tornamos amigos. Tudo que meu pobre vocabulário pode afirmar é que o Allan não é só um grande artista, um dos maiores (sem o devido reconhecimento, evidentemente), mas um ser humano na mesma proporção. Talento e humildade, duas qualidades cada dia mais raras neste meio.

Semana passada este fabuloso ilustrador me presenteou com esta pinup do meu personagem. Ela fala por si só.

Recebo este carinho sabendo que não sou merecedor, mas muito agradecido.
Deus te abençoe, meu irmão de pincéis e lutas.


sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Um conto sobre o Universo Antropomórfico de EDUARDO SCHLOESSER escrito por LUCA FIUZA.



A PONTE TRÁGICA

 Em um vilarejo interiorano sem luz e sem os confortos da vida moderna residia uma comunidade canina simples e ordeira que vivia dos produtos da terra. A única sombra de progresso que havia surgido há alguns anos era a linha férrea que trazia uma fumarenta e ruidosa locomotiva atrelada a velhos vagões de carga. Todo fim de mês a mesma parava na pequenina, mas bem construída estação para recolher os frutos do suor daqueles animais. Estes produtos livres de agrotóxicos iam abastecer as cidades da região. O lucro deste comércio não era muito. Contudo, era suficiente para aquelas criaturas simplórias terem uma vida decente dentro dos padrões a que se achavam acostumados.

Tempos depois surgiu nas cercanias um gigantesco Dogue Tedesco de índole má. Corpo musculoso de cor branca com manchas pretas. Voz trovejante e baba farta escorrendo pelas comissuras dos lábios frouxos, olhinhos brilhantes e cruéis. O indivíduo cismou em se postar o dia inteiro no meio da pequena ponte de pedra sobre o rio. Esta ponte separava o vilarejo da estação de trem. O brutal canídeo vociferou estático em sua posição que só passaria quem conseguisse vencê-lo em um duelo. O gigantesco canino portava um estadulho, pedaço de pau nodoso com o qual moía os ossos dos tolos que tentaram desafiá-lo. E houve muitos. Facilmente o monstruoso Dogue atirava seus oponentes com ossos quebrados nas águas geladas do rio abaixo da ponte. Em um destes embates um cachorrão forçudo que era o ferreiro do vilarejo aceitou o desafio. Este deu um pouco mais de trabalho ao Dogue, mas um certeiro golpe no meio do crânio atirou-o às águas, onde desapareceu para nunca mais ser encontrado.
Então, proibidos de atravessar a ponte, os pobres habitantes do vilarejo viram seu meio de sustento cortado, uma vez que não podiam mais levar seus produtos para o trem que parava mensal e religiosamente na pequena estação. Nem os protesto do maquinista, um porco grande, rosado e balofo, valeram de alguma coisa, Foi expulso a pauladas pelo grande Dogue que gargalhou até quase rebentar. Nem à noite era possível atravessar a ponte. O enorme cão aparecia não se sabe de onde e punha para correr o atrevido. Tentaram atacá-lo em grupo, mas seu nodoso estadulho girando em suas mãos como uma hélice espancou duramente os infelizes que acharam que podiam dominá-lo. A sombra da penúria pairava sobre o vilarejo e o pior de tudo é que os habitantes da malfadada vila eram forçados a pagar tributos em gêneros e toda a semana mandar uma cadelinha nova para saciar o inesgotável apetite sexual daquele que os tiranizava.

Certa manhã, um estranho apareceu na vila vindo do norte. Era um enorme gato extremamente musculoso, cinza, as suíças e os pelos nas pontas das orelhas denotavam que era um mestiço de gato e lince. Tinha um ar grave e era de poucas palavras. Mesmo assim, procuraram tratá-lo bem, desculpando-se pela frugalidade da refeição que foi oferecida na casa da esposa do ferreiro morto. Cochichando, contaram ao felino seus dissabores. Em princípio, o gato pensou que não era assunto seu, mas quando viu algumas mães tristemente escolhendo suas jovens filhas para serem entregas em holocausto aquela fera, o sangue lhe subiu a cabeça.
Em passos decididos, o felino cinzento foi até a ponte e caminhou por ela parando no meio bem de frente para o Dogue colossal que o encarava de cenho fechado.  O tom de voz do Dogue parecia um ronco e tinha um forte sotaque quando indagou rispidamente:
- Que querr aqui, gato?! Veio desafiarr a mim?
- Vim arrebentar tuas fuças e te deixar mais feio do que já é! – O canídeo riu estrondosamente.
- Onde estarr sua estadulho? Pensarr poderr vencerr a mim com seus mauns nuas? Tomarr este faca e corrtar uma estadulho parra focê! – Desdenhosamente, o enorme cão atirou um facão que trazia à cinta aos pés do felino taciturno. Sem nada dizer, tomou-o e habilmente cortou um galho de uma árvore próxima desbastando-o até confeccionar um estadulho rijo semelhante ao do oponente.
Os adversários não trocaram mais nenhuma palavra. Partiram para o embate duro, encarniçado, brutal! Os habitantes da vila foram chegando aos poucos enquanto o combate recrudescia. O som dos estadulhos se chocando era alto e assustador. De repente, o Dogue deu um golpe inesperado e animalesco, só não atingiu o felino devido a sua presteza em bloquear o formidável ataque. Golpes em cima de golpes eram aplicados, mas os dois combatentes mostravam que não eram principiantes e não se deixavam atingir, bloqueando, embaixo, em cima, saindo de uma investida lateral, o suor porejando em bicas, os rostos convulsionados, respirações sibilantes.
Inesperadamente, uma forte paulada atingiu de raspão as costelas do grande gato fazendo-o grunhir de dor.Tomado de dor e fúria mas decidido a não se dobrar, o felino avançou desferindo uma sequencia de golpes que atingiram a lateral do tronco do oponente, seguida por uma pancada na cabeça que fez o gigante curvar-se já vendo estrelas. Sem piedade, o mestiço invocado malhou o lombo do infeliz cachorro até que ele caísse vencido, ganindo penosamente - um ganido grosso e desesperado. Uma baba grosa lhe caía pelos lábios frouxos molhando-lhe o peito. O gato se quisesse poderia dar o golpe final naquela fronte derreada, mas conteve-se. Os dois ficaram se encarando longamente. Num átimo, o canzarrão mexeu-se ofegante de dor e se atirou nas águas do rio. Ali sumiu para nunca mais ser visto outra vez.
  O felino sorumbático partiu sem esperar agradecimentos daqueles animais simples e bondosos. Passou como uma sombra naquela comunidade, mas ficou para sempre lembrado como aquele que viera na hora mais sombria para libertar do calvário aquela vila esquecida.

Luca Fiuza em 30/07/14.

RESENHA DE ZÉ GATÃO - SIROCO POR CLAUDIO ELLOVITCH

 O cineasta Claudio Ellovitch, com quem tenho a honra de trabalhar atualmente (num projeto que, por culpa minha, está bastante atrasado) tem...